quinta-feira, 30 de setembro de 2010

UM MINI CONTO…

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AMOR       CIGANO                                                                                                                                                                                                                                                           Juan Miguel Herrera desceu do avião e atravessou a enorme passarela em direção às dependências modernas do aeroporto. Teve que aguardar meia hora pelas suas bagagens. Quem o visse naqueles momentos em sua aparente calma, não suspeitaria do fogo oculto em seu coração, de seu caráter apaixonado, da sua perseverança quando desejava obter alguma coisa, enfim de sua alma cigana.
Juan exibia uma personalidade de traços fortes, resultado do sangue espanhol de seu pai e, principalmente do sangue Kalon, de sua mãe que pertencia a um Clã cigano da Península Ibérica.
Momentos depois já de posse de suas bagagens, duas malas de couro negro e macio, parado à beira da calçada, esperava numa longa fila o táxi que o levaria ao hotel.
Tinha uma bela e elegante aparência aquele jovem de 3o anos: cabelos semi-longos de um negro luzidio e profundo, emoldurando um rosto anguloso, cujo queixo quadrado evidenciava ainda mais os traços gitanos... Os olhos, de um verde transparente, como duas líquidas esmeraldas, tinham um jeito penetrante, misterioso de olhar as pessoas... Ele as mirava direto, fixamente,como se entrasse em suas almas,descobrindo segredos. Um olhar de lobo.
O nariz reto, de narinas arfantes e belas, realçava uma boca larga de lábios decididamente firmes e sensuais... A sombra de uma barba escura evidenciava o semblante másculo e atraente. Mas o que chamava atenção eram os cílios escuros e longos em contraste com o olhar claro e magnético! Uma figura apaixonante.
Mas havia algo nele, em todo esse conjunto de eletrizante beleza, que o tornava ainda mais enigmático: certo quê de revolta contida... Um ar de felino espreitando nas sombras pronto para saltar sobre a presa. Uma inquietante sensação de incerteza das suas reações no instante seguinte.
Que segredos estavam escondidos naquela alma indevassável e inquieta?
Ylana  aguardava, sentada a uma mesa, num canto resguardado por um biombo chinês, cujas pinturas delicadas em cada um dos quatro painéis de papel de arroz traziam recordações da China Imperial, naquele restaurante em estilo vitoriano.
O filho de Hernandez, (um amor de seu passado ) lhe telefonara na noite de sua chegada e haviam combinado encontrar-se naquele lugar para unir um jantar agradável a uma conversa necessária sobre negócios.Pusera a casa sua casa à venda por dificuldades financeiras.O grande casarão em estilo vitoriano estava na familia à gerações.Hernandez fora seu professor na Universidade e seu primeiro amor .Tinha vinte anos mais que ela.Não dera certo o romance pelo preconceito de sua familia. No aconchegante salão havia oito mesas de quatro cadeiras, cada uma recoberta por alvas toalhas de cetim adamascado. Ao centro das mesas um pequeno abajur de bronze dourado com cúpula de vidro fosco, estilo Arte Nouveau, que lembravam flores róseas.
Ylana tentava disfarçar sua impaciência, mas evidenciava sua inquietação nas mãos que retorciam um guardanapo à sua frente. O grande relógio marcava 20.35 h quando o rapaz chegou ao restaurante quase cheio.
Ylana sentiu um arrepio gelado percorrer sua espinha. Suas mãos suavam nervosas.
Os olhos verdes a miravam diretamente. A boca sorria mostrando uma fileira de dentes perfeitos. Mãos morenas apertaram as suas, quentes e macias.
O homem puxou a cadeira à sua frente e sentou-se. Tudo nele exalava uma aura de elegância e finesse. Entretanto a moça teve a súbita sensação de estar à espreita, numa situação de presa sendo cobiçada por um felino ágil... Que estranha sensação seria essa?
Meu pai lhe manda um abraço Srta “... Entre uma garfada e outra e um gole de vinho cor de âmbar, Ylana e Juan iniciaram uma conversa superficial, mas politicamente correta,como acontece , comumente ,entre  pessoas que ainda não se conhecem.
Pairava no ar, entre os dois um clima de tensa expectativa. Os olhos de Juan Miguel, magnéticos, atraiam o olhar da moça e a faziam tensa. Porém,lentamente foi sentindo-se melhor,mais a vontade.
.Talvez,por efeito do vinho,relaxara as defesas e logo a conversa tornou-se mais amena e gentil...Talvez pela atmosfera mágica daquele lugar aconchegante,pelo ruído da chuva que caia agora mais fraca,lá fora,pelo vinho que já haviam tomado quase todo,fosse pelo que fosse,os dois deixavam-se atrair...Aquela sensação prazerosa,sensual que sempre flui entre homem e mulher em plena força de sua mocidade,acontecia agora,quase palpável,forte,entre Ylana e Juan.
As mãos que se seguravam sobre a mesa,o afago doce daqueles dedos longos e morenos,o olhar profundo e verde do jovem faziam arder a pele clara de Ylana...Mil sensações despertadas faziam a moça sentir um desejo louco e arrebatador por aquele homem atraente que trazia consigo a sensualidade e o mistério dos Filhos do Vento, do Povo dos caminhos... Contou-lhe sobre o passado... Sobre sua paixão por Hernandez... Enquanto ouvia, Juan mantinha o olhar semicerrado, como se vislumbrasse as cenas... Aos poucos iam se tornando mais próximos, mais íntimos. A moça,pela solidão amorosa em que vivia,permitia-se mergulhar naquela maravilhosa sensação de estar sendo desejada, querida... O rapaz, atraído pela beleza e sensualidade da jovem mulher,pelo calor que dela emanava,cumpria com prazer redobrado aquilo que a Natureza espera sempre de um homem: a conquista da fêmea.
Na penumbra que os rodeava, escondidos de todos os olhares pelo vidro fosco do biombo chinês, seus lábios se procuraram, ávidos, selando com um beijo um pacto amoroso...
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Na penumbra de seu quarto solitário jazia a escritora.
Sentada à escrivaninha de mogno escuro,debruçada sobre os papéis onde digitara o ultimo capítulo de seu romance,adormecera...
A bela cabeça loura,as faces levemente rosadas,Ylana dormia à sono solto,vencida pelo cansaço.Pela janela aberta entrava a brisa da noite,perfumada e fresca,trazendo consigo os sons misteriosos da escuridão.

Na cama desfeita,sobre um dos travesseiros alvos repousava uma rubra rosa vermelha, ainda trazendo gotas do orvalho noturno em suas pétalas...


"Eu não voltarei. E a noite
morna, serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente,
e pela janela alta
entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.**

** Trecho da Poesia de Ramón Jimenez "EU NÃO VOLTAREI".

( MINI-CONTO DE AUTORIA DE CEZARINA MACEDO CARUSO/2009).

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